Fiquemos Apenas
Sonhando
Quando viajo não sinto
Esta dor que me irrita,
Provocada pela ânsia
E pela vontade de mais fazer,
De ir mais além.
Temos dentro de nós um padecer
ancestral,
Uma névoa talvez que nos faz mal,
pessimamente mal.
É um rumo,
Ou uma prisão alta e sem guarda
Que em noites mal dormidas,
Pesa-nos no corpo do sentir que
embala a Noite.
Fazemos tricot em chávenas
douradas;
Chás das Índias Orientais, Persas,
Ou fumamos caídos em bálsamos
suaves,
Desvendando os mistérios
antigos...
“ ...Estes cães de agora são
subtis,
Comem durante a noite dos
caixotes,
Das sacas do lixo o alimento
Que deixamos apodrecer nas veias
Das estradas e caminhos;
E são vários os cães,
Uma data deles assaltam-nos a alma
E quebram-nos as horas...”
Ficamos de repente vazios...
E todo o imenso mundo se nos
abate,
Caindo com um estrondo trepidante
“ – Pum ...“
Ouvimos as engrenagens das horas
Fazerem-nos lembrar a existência
da realidade
Que é só nossa e só nossa deverá
ser lembrada.
Adivinhamos o seu passo (relógio)
E vivemos o pássaro na gaiola lá
ao fundo da sala.
“- Trago uma constipação pesada.
Hoje passei todo o dia assim...
Não me digas que também estás?...”
“- Trazemos dentro de nós a doença
que nos irá ser fatal,
Não viste hoje aquela do tal
Dr.?...
“- Que coisa esquisita !...
Dizem até que morreu como o outro
do futebol
“- Há constipações que vêem e se
vão embora
Rapidamente de uma hora para
outra...”
“- Sim, mas existem outras...,
Sim eu compreendo,
Como esta que me não larga,
Pá estou a desesperar...
Tira-me o sono, causa-me insónias;
Mas tenho tido outros problemas,
E o maior de todos é ter que fazer
Uma alimentação saudável.”
“- Pois é compreensível pá estás a
ficar obeso.”
“- Vou este Verão tentar viver
mais despreocupado,
É imperial que assim o faça.
Estou numa fase de fazer
separações,
Balancear, pesar, tirar notas,
Ou conclusões e me demarcar de
tudo e de todos...
Esverdear a minha vida
azulando-a.”
“- Hei-a pá, grande trocadilho.
Onde foste buscar isso?...”
“- Sei lá... Por acaso.
Pensa-se e já está; penso que nem
penso nisso.
Deve de ser a genialidade em hora
de sono,
E da escrita automática, que nos
faz ser assim.”
“- Agora só te falta te
transformares em nuvem!...”
“- Em nuvem?... Estás doido ou
quê?
Se há coisa que não gostava de ser
era nuvem.
Eu gosto mais de calma, deixa isso
para os Existencialistas,
Eu sou mais progressista e
renovador
De extrema verdade quer de Direita
ou de Esquerda;
Me assumo pelos Direitos do
Homem”.
“- É bem verdade que aqui fazemos
juz
Aos princípios da Igualdade,
Fraternidade, Democracia
– um claro Manifesto de verdade
anti...,
Anti-anti-arte,
Anti-anti-cultura e por ai fora,
estás entendendo?...”
“- Perfeitamente... Fiquemos
apenas sonhando...”.