Páginas

sábado, 22 de dezembro de 2012

kangosta vellha. a fonte soph

 
 



A Fonte Soph[1]

 

Urge e rasga...
Rasga vento Norte,
Vibra sobre as nossas cabeças...
Tu junto da perversidade
Da ingratidão humana não és nada.
Há esta melancolia!... Esta Solidão...
Os amigos que tivemos, onde estão?...
Abandonemos as grandes ilusões...
A verdadeira realidade
É mais trágica e cruel.
Não existe Lógica no Destino da Vida;
A flor nasce, cresce, vive e morre.
Apenas vive a inspiração
Tudo o mais é enigma.
A nossa dignidade,
A nossa reputação,
Lançadas abruptamente ou abstractamente 
Sobre o precipício das Artes,
E no nosso estado perdermo-nos
E tornarmo-nos estranhos em secretos estudos.
Aspiramos durante toda a nossa vida ao Nirvana...
É necessário portanto renunciar,
Ao Aventureiro e ao que é Tradicional,
À Política ou mesmo à Filosofia;
Elevemo-nos à serenidade e ao que é Supremo,
Ao Mago.
Incontronável este desejo,
Esta vontade que nos consome a alma,
Invariavelmente é urgente manter e conservar
A Invenção na Arte, na Vida,
De noite e de dia.
Crer na Arte ao ponto que cada palavra
Nos una cada vez mais
E que ela nos trate pelo nosso nome,
Se nos revele todo o seu mistério.
Esta é a mais alta fidelidade
Que se diversifica paradoxalmente
No lugar das aparências;
O Teatro revela-nos num mesmo segredo
Ou um outro,
uma única intenção.
 
“- E quereis vós Senhor lançar pérolas a porcos?...”.
 
Revivemos actualmente um novo “Renascimento”;
Revivemos novamente uma nova crença de Fé...
A morte Papal transformou o Mundo.
Assistimos ao Imperialismo de joelhos
Perante tanta inconformidade.
Renasce o Ocultismo, o Sobrenatural, qual Fénix...
A derrocada da fé,
Das filosofias,
O espírito ameaçado pelo seu próprio caos.
É desta amalgama de angústias que renasce
Em nós e se renova esta consciência Dramática:
Restituir ao Homem o sentimento da sua Divindade,
Através de uma purificação mística.
Tentemos criar um novo “Fausto”,
Uma  procura do absoluto ou do mistério antigo.
Uma reminiscência  Neoplatônica fervilha-nos entre mãos,
Nas veias;
A ciência gnóstica as entranhas do nosso ser...
Este enxofre ou este mercúrio
Que desvendámos em segredos,
Transforma-se numa realidade astrológica
Intemporal ou em uma alquimia nanológica.
 
É no desespero que enfrentamos o nosso Mal,
O nosso primeiro sentimento
Desse mal imenso; o facto de existirmos...
A Natureza que açoita sem descanso
Numa lenta degradação a nossa vigília.
 
O que é aparente!?... o que é realidade!?...

A secreta falsidade que as palavras nos ditam
E nos fazem crer em verdades nascidas de autênticas mentiras,
ou seja, a razão da maçã apodrecida.
Tudo é orientado, moldado ou iludido pelo ornamento...
Na mentira tudo é ameaça.
E porque estamos sempre à mercê do imprevisível,
Até quando estamos ao sol pode chover.





[1] Na Cabala, a fonte Soph significa o Nada, o Absoluto, o Incognoscível.
 
                                                                             do livro "pretéritos imperfeitos" 2006 josé luis pinto
 
 

Sem comentários:

Enviar um comentário